Anna Karin Björnsdotter Lindquist (Suécia)
Professora na Escola de Línguas Millennium (S. Paulo, Brasil).
Introdução
Sou da Suécia e vim ao Brasil seis anos atrás, para conhecer o trabalho do psicanalista austríaco-brasileiro Norberto Keppe, criador da Psicanálise Integral. Esta escola, que une as descobertas das principais correntes psicanalíticas (Freud, Jung, Frankl, Bion, Igor Caruso e Melanie Klain) é muito famosa em meu país. A Psicanálise Integral também se chama Trilogia Analítica, por abranger em seu estudo os três aspectos do ser humano e da sociedade: sentimento (fé), pensamento (filosofia) e ação (artes/ciência).
Meu interesse inicial foi pelo tratamento psicossomático aplicado por Keppe em seu consultório e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Já no Brasil, percebi que a ciência keppeana auxilia a humanidade a tratar de suas doenças psíquicas, físicas e sociais não só por meio do atendimento clínico, mas também através do método de ensino-terapia, que Keppe criou.
Iniciei então meu treinamento em Psicanálise Integral, o qual ainda faço, e tornei-me professora na Escola de Línguas Millennium, que utiliza o método pedagógico keppeano. Durante as aulas eu sigo este método, desenvolvido por Keppe, o qual se chama Psicolingüístico Terapêutico Trilógico.
Faço também faculdade de Pedagogia via internet na Suécia e foi ai que surgiu a idéia de redigir um resumo da visão pedagógica, ou melhor, psicopedagógica dele. Para tanto, usei como base do trabalho as idéias de Christer Stensmo. Este professor universitário agregado em pedagogia trabalha na instituição para educação de professores em Uppsala na Suécia e escreveu o livro A Filosofia Pedagógica (Pedagogisk Filosofi)
Em sua obra, este autor nomeia seis aspectos que estão na base de uma visão pedagógica:
- A ontologia,
- a epistemologia,
- a visão da ética,
- a visão do ser humano,
- a visão da sociedade
- e a visão da situação pedagógica. (Stensmo, C, 1994, s. 19)
1. Ontologia
A ontologia (estudo do ser) tem como objeto de estudo a natureza básica, o fundamento da realidade. Na ontologia você faz perguntas como: a realidade é aquilo que nos podemos observar ou é outra coisa diferente daquilo que nós podemos perceber com os nossos sentidos?. (Stensmo, C, 1994, s. 25)
Na visão ontológica de Norberto Keppe, tudo que existe está em ação (vibração). Este é o estado natural do ser (vibratório). Ao brecar ou diminuir a vibração, o ser entra na entropia, que é o seu desaparecimento (desintegração) - (KEPPE, Nova Física da Metafísica Desinvertida).
Portanto, o ser humano já nasce completo, em ato, decaindo depois para a potência, à medida que vai parando sua atividade. Ele já tem de início inteligência completa, afeto formado e atividade natural. Na mente já possui, formalmente a “ciência infusa”, os universais, que permitem o reconhecimento daquilo que observam os cinco sentidos.(KEPPE, Metafísica Trilógica - A Libertação do Ser)
A visão ontológica de Keppe está assim mais próxima de Leibnitz do que de Aristóteles ou Locke. Estes afirmaram que o conhecimento vem dos sentidos, dizendo Aristóteles “nada há no intelecto que primeiro não tenha passado pelos sentidos”; Locke chegou a afirmar que a mente humana é uma tabula rasa, uma folha em branco, onde os conhecimentos vão sendo impressos pelos sentidos. Ao contrário, Leibnitz afirmou: “nada há no intelecto que não tenha passado pelos sentidos, a não ser o próprio intelecto”, mostrando que há uma instância no ser humano, o intelecto em si, que não depende da experiência sensível.
Uma vez que o ser humano tem toda a vibração e o senso do saber, verifica-se que a ignorância, a potência,portanto, são apenas a deformação da ação, ou sua ausência. O estado natural do homem é o da inteligência, afeto e ação, a assim chamada ação pura, o que significa uma conduta boa seja no trabalho, no pensamento e na intenção.
Se alguém fala que uma pessoa tem potencial de fazer alguma coisa, nós podemos entender isto como algo negativo, pois indica que a pessoa não está usando (ou está brecando) a energia que recebe, destruindo as qualidades que ela tem.
A essência do ser humano, por natureza, é boa, bela e verdadeira, mas sua existência pode estar em oposição ao ser essencial, adoecendo-o. Essência e existência se identificam e, se um destes elementos é prejudicado, o outro também será. Por exemplo, se o ser humano deforma muito sua essência, sua ação será também deformada; ou seja, se tem uma existência problemática é sinal que a alma dele também é doentia. Por outro lado, se uma pessoa se obriga a agir contra o bem, para se adaptar a uma sociedade muito doente, ela (a pessoa) conseqüentemente também vai se tornar doente em sua essência.
Portanto, para Keppe, a chave para conhecer e manter-se saudável (ou recuperar a saúde) é o ato bom, belo e verdadeiro, em harmonia com a essência natural do ser humano
Keppe vê o mal como a privação do bem. Se uma pessoa, por exemplo, está doente, isto é um sinal que ela, na base, tem uma saúde perfeita que está rejeitando. Se ela é ignorante, é apenas porque está negando a inteligência que tem em seu interior. Ela se torna feia, ignorante e maféfica principalmente porque não quer dar glória ao Ser Divino e manifestar toda a beleza, inteligência e afeto que o Criador lhe deu.
Estes princípios da metafísica (contidos no livrode Keppe Metafísica Trilógica, vol. 1 – A Libetação do Ser) são fundamentais para o entendimento de todos os campos de conhecimento.
2. Epistemologia
A epistemologia trata de questões sobre a origem, a qualificação e a validade do conhecimento. A epistemologia é a teoria sobre conhecimento; O que você pode conhecer? Quando você conhece? E como você ontem conhecimento? (Stensmo, C, 1994, s .25ff)
Keppe escreve principalmente no seu livro O Homem Universal sobre a sua epistemologia. Ele afirma que o conhecimento tem a sua origem nos universais. Os universais são conceitos inatos, divinos e gerais na mente do ser humano que são iguais em todos os seres humanos, não importa qual sexo, nacionalidade ou religião que a pessoa pertence.
Os universais são captados principalmente através da intuição e da abstração no interior do ser humano. Um universal pode ser por exemplo a ideia formal de um animal, como o cachorro. Os pais não precisam explicar para o filho cada vez que ele vê uma raça diferente que aquele ser é um cachorro, porque a criança já tem este conceito dentro de si e reconhece o fato no mundo externo. Ou seja, ela tem o conhecimento essencial da substância do cão, independente dos acidentes que a modificam (cor, tamanho, aspecto etc).
Segundo Keppe o conhecimento vem do maior para o menor, do geral para o particular, do global para o parcial. Se eu vou construir um carro eu já tenho o conceito de como um carro pronto pode ser, e então vou montando as partes. O carro não é construído com peças separadas juntadas ao acaso.
Os ensinos nas escolas normalmente são invertidos porque querem ensinar do menor para o maior. Por exemplo, ensina-se primeiro as notas musicais, a teoria, para só depois a criança entrar em contato com a música em si. No método keppeano, a criança começa a tocar pequenas músicas simples e, a partir do gosto que adquire em tocar, motiva-se para aprender as partes de que a melodia é composta (notas, pausas, claves etc).
Outra inversão do ensino tradicional é dividir os campos de estudo. Por exemplo, o físico só estuda física, ficando alheio aos outros campos do saber. O médico só aprende a parte orgânica, desconhecendo a psíquica. O psicólogo só estuda psicologia, desconhecendo a biologia e o funcionamento social. O sociólogo desconhece as leis que regem as artes e a engenharia, e assim por diante. No entanto, todos os conhecimentos seguem as mesmas leis básicas. Keppe mostra, no livro A Nova Física, como a biologia (genética), a psicologia e a física estão intimamente relacionadas, através de leis comuns. Não se trata de amontoar conhecimentos, por exemplo, estudar psicologia, medicina, física, do modo que elas são apresentadas hoje, mas, sim, perceber o que há de comum e subjacente em todas as disciplinas que são, por natureza, unificadas.
O ensino nas escolas, portanto, não deveria ser particularizado, mas unificado.
Os ensinos da língua em geral também partem do menor para o maior. As escolas tradicionais querem ensinar a língua estrangeira através da gramática e vocabulário repetitivo, separados de um contexto maior. Na Escola Millennium Línguas, que aplica a pedagogia Keppeana, o método do ensino é totalmente ao contrário desse ensino porque parte do geral para o particular. O aluno aprende como uma criança e tem contato com a língua toda desde começo através de leituras terapêuticas, conversações e músicas na língua estrangeira.
Keppe se coloca critico à teoria do conhecimento empírica de Aristóteles. Enquanto este acredita na indução e acha que o conhecimento vem para o ser humano através dos sentidos, Keppe vê que o conhecimento verdadeiro é dedutivo, a priori, o que significa que o conhecimento já existe na mente do ser humano antes da experimentação. A experimentação é apenas uma maneira para o cientista testar se aquilo que ele pensa é verdade ou não. A ciência de hoje é baseada nas idéias invertidas do Aristóteles. Então o cientista moderno faz um experimento e emite uma opinião (doxa),desconectada da realidade, ao invés de experimentar o que tem na mente para ver se é real ou não
Isto pode ser exemplificado com a famosa piada do cientista que fez um experimento com uma aranha. ensinada, que andava ao ouvir uma ordem. Ele queria tirar as pernas da aranha para ver o que aconteceria. Ele tirou uma perna, mandou a aranha andar e ela andou. Tirou mais umas pernas e, ouvindo a ordem, a ranha andou novamente. No final ele tirou todas as pernas mandou a aranha andar. Obviamente, ela não andou. O cientista pegou um megafone e gritou: - ANDA!!! Mas a aranha ficou parada. Então ele pegou o caderno dele e anotou a sua conclusão: “Uma aranha sem pernas fica surda”.
Essa anedota mostra duas coisas fundamentais: 1. A ciência de hoje é contra a natureza e destrói tanto os animais, quanto as plantas, o ser humano e a planeta em geral. 2. A ciência de hoje é invertida por querer tirar todos os fatos dos sentidos, negando completamente o conhecimento inato e questões da intuição no processo de conhecimento.
No documentário da BBC sobre a vida do Leonardo da Vinci eu notei uma coisa interessante. No documentário o gênio é citado “Don´t pity the humble painter. He can be lord of all things. Everything that exists in the world, he has first in his mind and then in his hands.”
(“Não tenha pena do humilde pintor. Ele pode ser senhor de todas as coisas. Tudo que existe no mundo, ele tem primeiro na sua mente e depois em suas mãos.”) Esta citação mostra claramente que o gênio tinha consciência de que ele já tinha todo conhecimento dentro da sua mente antes que ele tinha contato com a coisa através dos sentidos.
Um outro aspecto da epistemologia de Norberto Keppe é que todo conhecimento verdadeiro vem da ação pura. As idéias são conseqüências das ações: o ser humano pensa de acordo com o que ele faz. Quanto melhor é a ação, mais próximos estamos do ser, que é a base de toda realização.
Keppe escreve no seu livro A Metafísica Trilogica – A Libertação do Ser:
“O conhecimento segue a ação, desenvolvendo-se de acordo com ela; estou falando que pensamos de acordo com o que fazemos, e não ao contrário, como geralmente se julga: o pensamento é subproduto da ação que o individuo carrega em sua essência interior. Posso afirmar que quanto melhor é o ato, mais perfeito é o ser, uma melhor composição que é questão de qualidade, constituindo o cerne de toda e qualquer realização” (Keppe, 1994, s. 51).
Esquema sobre como o conhecimento vem para o ser humano:
O mundo externo
(material e espiritual)
↑
Sensações Externas
↑ Internas
Sentimentos
↑
Consciência
↑
Intuição
↑
Conhecimento
Os três fatores assinalados acima são intimamente correlacionados, quase não podendo se distinguir o que é uma sensação, um sentimento ou uma consciência – o mais importante entre todos é o sentimento que se for de amor, haverá contacto com a verdadeira realidade (material e espiritual), se de ódio e inveja desenvolverá a megalomania e o narcisismo [...] (Keppe, N, 1994, s. 109)
Nós podemos ver que Norberto R. Keppe dá muita importância ao sentimento. Sem o sentimento de amor nenhum conhecimento existe. Portanto ao contrário da famosa afirmação de Tomás de Aquino “ Você só ama o que conhece”, Keppe afirma que a pessoa “só conhece o que ama”, que dá um entendimento muito mais profundo do conhecimento.
3. A visão da ética
A visão da ética se trata de quais valores se manifestam e quais existem explícitos ou implícitos na situação pedagógica. (Stensmo, C, 1994, s. 19)
A ética trata questões sobre o que é bom e o que é mau, certo e errado. As questões principais são: O que é moralmente bom? O que é certo? O que é dever? Estas perguntas tratam o que você deve fazer e como você deve agir. (Stensmo, C, 1994, s. 39)
Não é que o ser humano tenha razão, amor, atividade, ele é o pensamento, o sentimento e a ação. Keppe escreve no livro O Homem Universal que o bem, o verdadeiro e o belo são o ser. (Keppe, N, 1999, s. 47)
Portanto uma pessoa boa, verdadeira e bela é aquela que está sendo o que ela é na base. A realidade é boa e quem age de acordo com a realidade é bom e ético.
Assim como o Platão, Keppe vê que o bem, a verdade e o belo são conceitos absolutos, mas para Keppe esses conceitos têm a sua origem nos universais e não no mundo das idéias. Conhecimento sobre o que é ética, a pessoa tem dentro de si e não precisa ser discutido intelectualmente. Para ter uma ética funcionando bem a pessoa tem que estar em ação boa, trabalhar.
Keppe escreve no seu livro A Libertação da Vontade que a única coisa que pode manter uma personalidade equilibrada é um comportamento ético, porque é uma combinação do sentimento (amor) e razão. Trata-se de uma junção entre os dois, que evita qualquer tipo de exagero. (Keppe, N, 2000, s. 125) Ele também explica que um comportamento ético consiste em aceitar a realidade, enquanto uma conduta antiética consiste em negar aquilo que nós já conhecemos. Assim se torna óbvio que a ética é fundamental para a existência de todo tipo de ciência e todo tipo de conhecimento humano.
As principais virtudes segundo Keppe são o amor, a ética, a verdade, a estética, a ação e as artes. (idem, s. 150)
Como nós notamos, Keppe dá muito valor para a ética e as virtudes. Ele até afirma que toda saúde orgânica e psicológica, assim como todas as riquezas e realizações, na base dependem das virtudes humanas. (idem, s. 165)
Stensmo, em seu livro, escreve sobre a ética da intenção e a ética da conseqüência. Segundo ele, na ética da intenção você valoriza a intenção de uma ação e não se importa muito com as conseqüências da ação; na ética da conseqüência você valoriza a ação pelas conseqüências e voçê não se importa muito com a intenção e com quais meios a pessoa as alcançou. (Stensmo, C, 1994, 42ff)
Keppe acredita que o ser humano tem um inconsciente dentro de si, que é um resultado da atitude do individuo de negar a consciência (e não como o Freud acreditava; uma instânçia inata e natural no ser humano.)
Eu tiro a conclusão que a intenção e a consequençia para Keppe são iguais. Se uma pessoa por exemplo vai viajar para o exterior e no primeiro dia no novo pais cai e quebra uma perna, nós podemos desconfiar que a intenção desta pessoa com a própria viagem não era tão boa. Mesmo que a pessoa possa afirmar que tinha uma intenção muito boa com a sua viagem e queria se divertir, as conseqüências das suas ações mostram qual que era a intenção real da pessoa (provavelmente inconscientizada). Por isso eu acho que a ética da intenção pode ser questionada.
A ética da conseqüência também pode ser questionada por que ela pode dar uma idéia de que você às vezes pode alcançar bons resultados com ações ruins. Esta idéia se baseia numa dialética falsa: - O mal traz um bem, a guerra traz paz, a loucura traz genialidade etc...
O Dr Keppe explica que na dialética certa (Socrática, Cristá, Keppeana) o bem traz o bem, se você quer paz prepare-se para paz e um gênio consegue realizar coisas incríveis por causa da sanidade dele, apesar da loucura que ele possa ter.
O contrário da ética, segundo Keppe, é a vontade invertida. Ele vê a vontade como o maior inimigo do ser humano. Segundo Keppe a vontade é invertida, que significa que o ser humano normalmente rejeita o que é bom para ele e quer o que não é bom para ele e para os outros. Como um exemplo da nossa vontade invertida eu posso citar a vontade de fumar, beber ou de brigar com aqueles que nós mais amamos.
A vontade resulta em dois problemas: as emoções (a patologia do sentimento) e o racionalismo (a patologia do intelecto). (Keppe, N, 2000),
Agir através das emoções é provavelmente a maior atitude contra a ética que uma pessoa pode fazer – obviamente eu estou falando sobre os sentimentos negativos (inveja, ódio, arrogância). (idem, p. 38)
Se o pensador não é ético ele não quer pensar de maneira adequada, mas usa a sua vontade para criar teorias totalmente fora da realidade. Um exemplo disso é quando Darwin acredita que o ser humano é um macaco evoluído, sem haver qualquer prova até hoje sobre isso.
Segundo Stensmo um dos problemas éticos na pedagogia é quais interesses você vai servir dentro da atividade pedagógica. (Stensmo, C, 1994, p. 45)
Segundo Keppe o papel do pedagogo é conscientizar o individuo das suas más atitudes como inveja, inversão, teomania e arrogância para levar a pessoa de volta para a sua essência que na base é boa, bela e verdadeira, ou seja, levar a pessoa de volta a ser o homem universal que é na essência. O ser humano tem uma função na sociedade e deve realizar coisas boas para os outros (e para si mesmo como uma conseqüência) e servir o mundo.
Stensmo também levanta a questão da censura quando ele fala sobre questões éticas. (Stensmo, 1994, p. 45)
Segundo Keppe a censura ao comportamento patológico é uma coisa positiva. O ser humano não deve se permitir agir de qualquer modo, contra tudo e todos. O que não pode ser censurado é a consciência de uma conduta errônea. Se uma aluna na escola é alienada, não presta atenção ou é agressiva ela não deve ser punida. O importante é conscientizá-la de que ela está se comportando numa maneira errada que não é boa para a aprendizagem e deixá-la entender que ela adotou uma atitude que não só prejudica os outros, mas principalmente a si mesma.
4. A visão do ser humano
A visão do ser humano trata questões de como se vê os alunos como seres humanos. O ser humano aluno é bom ou mau na base? Ele é ativo ou passivo? Ele é responsável ou irresponsável? Você deve motivá-lo com “chicotes” ou com “cenouras”? (Stensmo, C, 1994, p. 19)
Keppe vê o ser humano, na sua essência como bom, belo e verdadeiro. Ele foi originalmente criado em semelhança a Deus. Então todos os seres humanos têm na base a mesma capacidade, inteligência e valor. Entretanto o ser humano tem atitudes patológicas que o fazem ir contra o próprio ser. No livro O Homem Universal o Dr Keppe escreve que não é que o ser é bom, verdadeiro e formoso, mas que o belo, a verdade e a bondade são o ser. (Keppe, N, 1999, s. 47) Então você não pode dizer que uma pessoa é má, porque se ela é má ela não existe, ela está agindo contra o seu ser.
A diferença entre um gênio e uma pessoa comum é apenas que o gênio não destrói tanto o que lhe foi dado. Enquanto Rousseau viu a criança como boa e depois corrompida pela sociedade, Dr Keppe também vê que a própria criança é neurótica e vai contra o bem que tem na vida. Keppe mentiona um número de patologias fundamentais existentes em todos os seres humanos.
1. A inveja – Descontentamento e má vontade com relação à felicidade, vantagens, posses, beleza, bondade, etc., de outros. Do latim invidere, significa “não querer ver” o bem estar dos outros. (Keppe, N, 1993, p. 309)
“ Freud já havia dito sobre o magno problema de inveja, nas psicopatologias graves, e Melanie Klein trabalhou toda a sua vida sobre tal base. No entanto, nenhum deles abordou o seu aspecto mais importante, que é a inveja de Deus – através da qual o ser humano tenta acreditar que a realidade é ruim – só porque tem raiva de toda maravilha que existe na verdade. Por causa desta atitude, fecha os olhos, tornando-se alienado, inconsciente. E esta é a sua única doença.” (Keppe, N, 1981, p. 19)
2. Inversão – Processo através do qual a pessoa vê o bem naquilo que é ruim e o mal no que é bom; isto é, acredita que a fantasia leva à realização, e que a realidade causa sofrimento; vê o pecado como prazeroso e a virtude como sacrifício; considera Deus como restritivo ou punitivo, e o demônio como libertador e doador de prazer; pensa que o amor traz sofrimento e que a razão pura leva ao equilíbrio; acredita que o poder social significa felicidade e que o serviço para a humanidade significa sacrifício e inferioridade. (Keppe, N, 1993, p. 309)
3. Inconscientização – Neologismo criado por Norberto R. Keppe – atitude de esconder, reprimir ou negar a consciência que temos. (Keppe, N, 1993, p. 309)
O problema fundamental, na atitude do homem, é o seu esforço, para apagar a consciência de qualquer problema. Temos de distinguir o problema de sua consciência, pois, ao rejeitar a percepção, estamos apenas realimentando a dificuldade, isto é, aumentando-a. O seu contrário é valido. Ao conscientizar um problema, já estamos no caminho de resolvê-lo, afirma N. Keppe,
4. Teomania – O desejo maléfico e invejoso de ter um poder divino; mais forte em indivíduos psicóticos e pessoas em posições de poder na sociedade. De acordo com Dr. Keppe, a teomania, uma forma extrema de megalomania, é a causa de por detrás de toda doença (social, mental, orgânica). Psicóticos freqüentemente se vêem como sendo Jesus Cristo, o Espírito Santo, a Essência Divina, etc.. (Keppe, N, 1993, p. 312)
Keppe vê que o ser humano tem 3 partes: sentimento (teologia), pensamento (fiosofia) e ação (ciência). É importante levar em consideração estas três partes quando voçê trata uma pessoa. O homem universal tem sentimentos bons, pensamentos bons e ações boas. Segundo Keppe o ser humano é um ser com corpo e alma (vida psicológica) O corpo e a alma são uma só estrutura energética, proveniente da mesma energia, transcendental ou a assim chamada energia escalar pelo físico Nicola Tesla. Quando o ser humano está em ação pura ela recebe essa energia e todo o seu ser funciona em harmonia.
5. A visão da situação pedagógica
A visão da situação pedagógica trata questões de perspectivas de ensino e aprendizagem.
Quem é o ator principal na situação pedagógica? O professor/ o pedagogo que ensina do seu fundo de conhecimento e estrutura e apresenta a sua informação com diferentes tipos de auxiliares? O aluno/o participante que aprende e trabalha com a informação, vista dos seus interesses? (Stensmo, C, 1994, s.19)
Durante o meu trabalho como professora, seguindo a visão pedagógica de Norberto R. Keppe apresentada aqui, eu noto que o aluno é colocado em foco na situação pedagógica. O mais importante é o desenvolvimento do aluno. O professor tem treinamento psicanalitico e tem a função de ajudar o aluno a ver quais atitudes negativas que ele adotou, que impedem a sua aprendizagem. O professor deve assim como um psicanalista mostrar para o aluno o bem, a verdade e a beleza que ele possui em seu interior e mostrar como ele destrói isto dentro de si. Assim o aluno pode retornar a ser o homem universal que ele uma vez decidiu parar de ser.
Obviamente o professor não só deve ensinar isto com palavras, mas principalmente através de seu exemplo : “A palavra é de ouro, mas só o exemplo arrasta”.
Keppe vê assim como o Sócrates que o aluno já tem a verdade dentro de si e a função do pedagogo é apenas de levar o aluno a restabelecer contato com aquilo que ele já sabe.
Durante as minhas aulas na Escola Millennium eu trabalho com textos terapêuticos com conceitos fundamentais dentro da metafísica e da ciência da psicopatologia trilógica e o aluno é levado a um conhecimento geral em todos os campos de conhecimento: ciência, ética, política, teologia, economia, sociologia, arte e filosofia. Os campos de conhecimento não se contrapõem porque seguem as mesmas leis e princípios básicos. Se uma ciência entra em choque com outra é um sinal que algo está errado. A medicina por exemplo não deveria entrar em conflito com a psicologia, assim como a ciência não deveria contradizer os fundamentos da teologia.
Como o ser humano tem três partes: sentimento, pensamento e ação, é importante levar em consideração estas três partes durante o processo de ensino. Em escolas de línguas comuns por exemplo o professor geralmente ensina apenas a parte do pensamento, a gramática e as palavras. Na Millennium, entretanto, é importante que o aluno participe ativamente, converse e ao mesmo tempo tenha contato com os seus sentimentos, bloqueios e atitudes que impedem sua aprendizagem..
Norberto R. Keppe vê as artes com a base da toda civilização e todo desenvolvimento humano. Por isso eu também trabalho muito com arte durante as minhas aulas na Millennium; pintura, musica e literatura. Eu noto que as artes têm um efeito calmante nos alunos e estimula a sua intuição, sensibilidade e capacidade de entender.
No processo de ensino trilógico procedemos ao principio básico da metafísica que o conhecimento vem do maior para o menor. No ensino de uma língua isto significa que você não ensina a língua só com regras gramaticais, mas deixa o aluno ter contato com a língua toda desde começo, assim como ele aprendeu a sua própria língua quando era criança.
A pedagogia trilógica cresce cada vez mais em São Paulo e há pouco tempo escolas primárias começaram a aplicar as suas idéias, com ótimos resultados. A idéia é que o ensino deve consistir de 33 % trabalho prático, 33% matérias tradicionais, 33% arte, inclusive a conscientização da psicosociopatologia.
6. A visão da sociedade
A visão da sociedade trata questões de como se vê a relação entre uma educação e a sociedade ao seu redor. A sociedade é boa ou má? A educação deve ser adaptada a sociedade e consolidá-la? Ela deve mudar a sociedade? Ou ela é uma questão particular? (Stensmo, C, 1994, s. 19)
Keppe vê que a sociedade em si é boa e divina. Entretanto, o ser humano quer atrapalhar o funcionamento certo da sociedade. Por isso formou -se uma sociedade doente. Por trás de cada teoria e cada sistema encontra-se a psicopatologia dos indivíduos que a elaboraram. Para poder solucionar os problemas que existem na sociedade e os problemas individuais também, Keppe desenvolveu um estudo sobre a doença social (a sociopatologia), propondo uma socioterapia trilógica.
Claudia Bernhardt Pacheco descreve no seu livro a visão de Keppe sobre a sociedade:
“De acordo com ele, não é possível um individuo ser são, se é criado em família e sociedade tão patológicas que o influenciam desde o nascimento, “deformando-o” definitivamente no processo de “educação” e “socialização”. [...] Se considerarmos que todas as regras e valores sociais são certos, o processo de socialização será saudável e necessário. Mas se percebemos que grande parte das regras, prêmios e proibições foram instituídas para servir um esquema sócio-econômico de corrupção, então podemos chamar este processo não mais de socialização, mas de “lavagem cerebral”, ou de mecanismo social de patologização.”
Para evitar esta deformação do individuo Keppe sugere uma socioterapia, sociedades e empresas trilógicas que trabalham para dar uma educação mais adequada para o ser humano. Numa sociedade trilógica a pessoa é incentivada de trabalhar para realizar aquilo que é bom, belo e verdadeiro para a humanidade. Ao contrário do que se vê em nossa sociedade atual, em que as pessoas de valor, como os artistas, cientistas e pensadores, são impedidas, perseguidas e até mortas quando querem realizar algo de bom.
Keppe criou residências trilógicas, como uma tentativa de criar uma maneira de viver mais de acordo com os interesses do ser humano do que com os das instituições patológicas. Numa residência trilogica as famílias e os indivíduos moram num prédio e dividem os custos para lavadeira, faxineira, babá, carros, viagens, comida etc... Isto significa uma grande economia de tempo e de custos e uma liberdade para os moradores saírem mais para usufruir eventos culturais e participar de atividades sociais.
Além disso, todos os moradores participam nos grupos de terapia onde os problemas dos indivíduos são conscientizados, o que promove um relacionamento aberto e honesto entre os indivíduos e os problemas são rapidamente resolvidos.
Keppe também criou empresas trilogicas aonde as pessoas trabalhando usufruem os frutos do seu trabalho. Os indivíduos ganham de acordo com o trabalho que fazem e o dinheiro não vai para o poder socioeconômico ou de um grupo de capitalistas.
Claudia Pacheco escreve que:
“Os dois princípios fundamentais para que um empreendimento seja trilogico são:
• Capital – O capital investido deverá ser igual para todos os sócios, o que impedirá que aquele que tenha maioria de quotas, adquira poder sobre os demais sócios. [...]
• Divisão de lucro pelo trabalho – As Empresas Trilogicas não têm salários como acontece às demais empresas do mercado. O sistema utilizado é o seguinte: com a renda bruta do trabalho de todos os sócios são pagas as despesas da empresa, incluindo-se compra de novas instalações, melhoramentos, manutenção etc., e o restante, ou seja, o lucro é dividido proporcionalmente entre os sócios, de acordo com a sua produção (qualidade e importância da sua função para a empresa, e o numero de horas trabalhadas).”
Os problemas e as decisões da empresa são discutidos sobre a presença de todos.
No programa de TV “O Homem Universal” é mostrado um gráfico sobre o o que seria a universalização ao contrario da particularização. A particularização mostra uma sociedade doentia enquanto a universalização mostra uma sociedade sá. Na particularização, as riquezas pertencem a alguns poucos, que são servidos (e donos) das escolas, dinheiro, empresas, riquezas, cultura, bancos "glórias" etc. Globalização é dar o mundo para alguns poucos. Na Universalização, ao contrário, o ser humano está a serviço do mundo, e todas as escolas, ciência, igrejas, riquezas, pesquisas, indústrias, nações, agricultura servem o povo em geral.
Obs: Dá as riquezas para a humanidade toda. Keppe, N, O programa de TV O homem Universal, nº 384)
A sociedade de hoje se encontra mais na particularização e atualmente a educação tenta adaptar o individuo a sociedade, formando robôs, sem ideais, que pensam apenas em seus próprios interesses e servem as intenções de inveja e cobiça do poder sócio-econômico patológico. Os indivíduos de poder não querem que as pessoas pensem individualmente e preferem que o povo permaneça alienado sem força de mudar a situação.
Dos gráficos acima nós podemos tirar a conclusão que a função da educação na sociedade não é de educar o ser humano a se adaptar à sociedade, servir o poder e servir alguns indivíduos doentes e egoístas, mas de capacitá-lo a mudar a sociedade para o melhor, educá-lo a servir a sociedade e os interesses do povo para que a nossa civilização se desenvolva em todos os campos da ciência, cultura, arte, indústria etc.
Keppe escreve no livro “Effective Education Through Consciousness palavras bonitas sobre a educação que vou usar para finalizar o meu trabalho sobre a visão pedagógica dele”:
“Educar é desenvolver a consciência de tudo que existe; é entrar em contato com toda realidade. Claramente, a aprendizagem intelectual é importante, mas ela deve servir o ser humano e não os poderes que governam a nação. Por outro lado, é necessário que nós aceitemos a consciência das nossas próprias dificuldades, os nossos problemas individuais – aceitar total consciência da neurose humana (psicose) se nós queremos conseguir ter uma vida social normal. [...]
Não adianta tentar criar novas teorias e técnicas educacionais se o elemento fundamental da educação for deixado de lado. Nós devemos primeiro compreender por que o homem não aprendeu a educar a si mesmo.
Depois disto, qualquer coisa e tudo que nós empreendermos terá sucesso. A finalidade da Trilogia Analítica é esta: ajudar o ser humano a se tornar consciente das atitudes que ele adota que o levam a negar, omitir ou distorcer a realidade; atitudes que provêm da inveja. O resto vem por si.” (Keppe, S, 1989, s. 13f)
Lista de referençia
Keppe, Norberto, A Nova Física da Metafísica Desinvertida, 1996, Próton Editora LTDA, São Paulo
Keppe, Norberto, A Libertação da Vontade, 2000, Próton Editora LTDA, São Paulo
Keppe, Norberto, A Metafisica Trilogica – A Libertação do Ser, 1994 Próton Editora LTDA, São Paulo
Keppe, Norberto, O Homem Universal, 1999, Próton Editora LTDA, São Paulo
Keppe, Norberto, Liberation of the people, 1986, Próton Editora LTDA, São Paulo
Keppe, Norberto, Sociopatologia –Estudo sobre a patologia social, 1991, Próton Editora, LTDA, São Paulo
Pacheco, Claudia, ABC da Trilogia Analítica, 1990, Próton Editora LTDA,
São Paulo
Simula, Suely, Effective Education Through Consciousness, 1989, Próton Editora LTDA,
São Paulo
Stensmo, Christer, Pedagogisk filosofi, 1994, Studentlitteratur, Lund
Tv-program O Homem Universal nº 384, 02/08-2006
Tv-program O Homem Universal nº 342, 07/07-2005
The man who wanted to know everything, BBC – Documentario sobre a vida do Leonardo da Vinci
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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